Dec 09, 2023
IBM está criando perfume usando inteligência artificial
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A IBM desenvolveu um algoritmo de perfume e está chegando ao corredor de fragrâncias.
A criação de um perfume é muitas vezes tratada como uma arte sob medida. Os franceses se orgulham de séculos no ramo olfativo, e os mestres olfativos profissionais - muitas vezes chamados de "narizes" - passam décadas aprendendo o ofício, aprendendo com mestres. Empresas gigantes de cosméticos, como Coty e Estée Lauder, preenchem enormes cheques para agências de fragrâncias famosas, que empregam meticulosos químicos de perfumes, escrupulosos na arte da aromacologia.
Um tema comum aqui é que a habilidade de desenvolver uma fragrância é extremamente valiosa – e extremamente humana. O cheiro é, afinal, o sentido que a ciência diz ter a capacidade mais forte de evocar memórias ou desencadear emoções e humores.
Agora, a IBM está tentando virar o modelo tradicional de cabeça para baixo, aproveitando o poder da inteligência artificial para desenvolver aromas.
A Symrise, uma grande empresa global de fragrâncias com sede na Alemanha e clientes como Estée Lauder, Avon, Coty e Donna Karan, recentemente contratou a gigante da tecnologia para estudar como o aprendizado de máquina pode ser aplicado no mundo das fragrâncias.
A IBM desenvolveu um algoritmo que estuda as fórmulas de fragrâncias existentes e depois compara os ingredientes com outros conjuntos de dados, como geografia e idade do cliente. Este algoritmo, que foi criado no Thomas J. Watson Research Center da IBM e que a empresa batizou de Philyra, pode agora desenvolver novos perfumes que visam segmentos de mercado muito específicos.
Achim Daub, executivo da Symrise, diz que a empresa já vendeu dois perfumes desenvolvidos por IA para O Boticário, a segunda maior loja de produtos de beleza do Brasil. As duas fragrâncias, cujos nomes não foram divulgados à Vox, começarão a ser vendidas nas 4.000 lojas de O Boticário no ano que vem.
Tudo soa um pouco futurista. Como exatamente o processo funciona? E como um algoritmo pode entender os componentes sensuais, transformadores e pessoais da escolha de fragrâncias?
A Symrise tem 1,7 milhão de fórmulas de fragrâncias que são coletadas ao longo dos anos. Isso inclui aromas que foram vendidos para empresas como Estée Lauder e Coty, que os comercializam e embalam como perfumes sofisticados, bem como sabores e misturas usadas para coisas como pasta de dente, ração para animais de estimação, detergente, velas, salgadinhos e refrigerantes.
A Symrise compartilhou com a IBM esta lista de fórmulas de fragrâncias, juntamente com informações sobre seu desempenho em termos de vendas. A Philyra os adicionou a um banco de dados e os comparou com dados adicionais de clientes fornecidos pela Symrise, como quais perfumes eram os mais vendidos e onde, quem os estava comprando e qual faixa etária prefere quais perfumes mais. A Philyra pode então usar essas informações para criar novas fórmulas direcionadas a dados demográficos específicos.
Richard Goodwin, um cientista pesquisador da IBM que faz parte da equipe que desenvolveu o Philyra, descreve esse desenvolvedor de fragrância artificial como "um sistema que aprendeu a criar uma fragrância como um aprendiz humano".
"Assim como um aprendiz aprenderia com um mestre quais combinações de ingredientes funcionariam bem, como qual seria um bom substituto para o óleo de laranja e quando, ou quando adicionar óleo de rosa em vez de limão, o aprendizado de máquina criará uma fragrância baseada na qual fórmula funcionou melhor", diz ele.
No caso dos perfumes que a Philyra fez para o Boticário, a marca pedia perfumes voltados para a geração do milênio que vive no Brasil. Philyra comparou fórmulas com perfumes populares naquela área e faixa etária e apresentou duas. O primeiro, de acordo com o perfumista sênior da Symrise, David Apel, cheira a "coisas que só posso associar à culinária exótica... sementes de feno-grego, vagens de cardamomo verde, semente de cenoura, tudo envolto em uma nota de base leitosa, amanteigada e rica". A outra fragrância é frutada e floral - aparentemente voltada para meninas - e tem aromas de chá Osmanthus com lichia e patchouli, que Apel chama de "inocente, cintilante, efervescente".
Daub diz que ambas as fragrâncias receberam respostas estelares de grupos focais e ficaram no topo mesmo quando testadas contra outros perfumes populares entre os millennials brasileiros.

